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Será que França fará descarrilar a moeda comum da África Ocidental?

YAOUNDÉ – Decorreu uma cimeira sem precedentes no início de outubro em Montpellier, França. Pela primeira vez, desde o início destas cimeiras em 1973, nenhum chefe de Estado africano foi convidado. Em vez disso, o presidente francês, Emmanuel Macron, conversou com estudantes, empresários, artistas e atletas. O objetivo do encontro era encontrar formas de “reconstruir” a relação entre França e África, principalmente à luz do sentimento anti-francês que está a aumentar em muitos países francófonos por todo o continente.

Mas há razões para questionar a sinceridade da iniciativa de França de reiniciar as relações com suas ex-colónias africanas, em particular devido à intervenção de Macron na criação de uma nova moeda partilhada para a África Ocidental.

Em junho de 2019, após quase 30 anos de discussões e vários prazos falhados, os 15 membros da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciaram que a sua nova moeda planeada, batizada com o nome de eco, seria introduzida em 2020. Mas numa conferência de imprensa conjunta, em dezembro, com o presidente Alassane Ouattara da Costa do Marfim, Macron declarou que, em 2020, os oito países da África Ocidental de língua francesa (Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Mali, Níger, Senegal e Togo) retirariam a sua moeda comum, o franco CFA da África Ocidental, e substituí-la-iam por uma nova moeda – também de nome eco. Esta declaração surpreendeu os outros sete países da CEDEAO, que são principalmente anglófonos, uma vez que contradiz diretamente o roteiro para uma nova moeda definido apenas seis meses antes.

Superficialmente, há alguma lógica neste curso de eventos. Os oito países francófonos já partilham uma moeda, portanto, teoricamente, estariam mais preparados para fazer parte de uma união monetária. Depois da declaração de Macron, houve alguma discussão de que os sete países restantes deveriam primeiro formar uma união monetária por conta própria. Assim que essa união se mostrasse funcional, seria muito mais fácil para esses países aderirem ao eco. Mas, na prática, a criação de um eco separado da África Ocidental serve para criar uma relação mais estreita entre esses países e França do que com os seus vizinhos africanos.

Além de mudar o nome da moeda da África Ocidental, a declaração de Macron e Ouattara estipulava que os países que usassem o novo eco já não seriam obrigados a manter metade das suas reservas em França, e França não estaria envolvida na gestão da nova moeda. Mas, enquanto o plano para o eco da CEDEAO previa uma taxa de câmbio flexível, o novo eco, à semelhança do franco CFA, ficaria indexado ao euro e França continuaria a ser o fiador da sua convertibilidade.

O anúncio de Macron e Ouattara criou um rebuliço na região. Logo após o anúncio, o presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, confirmou a disponibilidade do seu país para aderir a uma nova união monetária – mas não nos termos estabelecidos por Macron e Ouattara. Em janeiro de 2020, seis países sobretudo anglófonos da África Ocidental – Gâmbia, Gana, Guiné, Libéria, Nigéria e Serra Leoa – emitiram uma declaração conjunta a condenar o programa de Macron e Ouattara. Em junho de 2020, o presidente nigeriano, Muhammadu Bahari, publicou no Twitter que a decisão dos países de língua francesa de criar uma nova moeda comum de forma unilateral implicava uma falta de confiança nos outros parceiros da CEDEAO e indicou que o seu país, que representa 70% do produto interno bruto da CEDEAO, não iria aderir.

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Como a pandemia de COVID-19 continua a assolar a África Ocidental, muitos economistas argumentam que a região precisa de se concentrar na recuperação económica e não em projetos como uma nova moeda. No entanto, no final de maio de 2021, realizou-se um simpósio monetário da África Ocidental, Les États Généraux de l’Eco, em Lomé, Togo, para discutir o fim do franco CFA e a introdução do eco. A declaração emitida no final do simpósio confirmou o plano apresentado pela primeira vez por Macron e Ouattara, em dezembro de 2019, e a intenção dos estados francófonos da África Ocidental de seguir em frente.

Depois, em junho de 2021, os países da CEDEAO realizaram uma cimeira em Acra, Gana, onde anunciaram um novo calendário para o seu eco. Está agora planeado ser implementado em 2027. Jean-Claude Kassi Brou, presidente da Comissão da CEDEAO, culpou a pandemia pelo atraso.

Como é que o eco da CEDEAO irá interagir com o eco utilizado na África Ocidental francófona? Isso é uma questão em aberto. E a resposta pode depender do nível de sinceridade de França sobre reequilibrar o seu relacionamento com as suas ex-colónias.

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